quinta-feira, 23 de junho de 2016

23 de junio de 2016

Hoy es, sin lugar a dudas, un día muy muy muy importante en Colombia y debería serlo en toda América Latina. Que sea el más importante de los últimos 60 o 100 años está aún por verse, pero ya es lo suficientemente grande e importante como para merecer bellas celebraciones y mayores esperanzas.

Quien me conoce, sabe que soy profundamente escéptico y pesimista, que siempre detesté y que nunca creí en FARC, gobierno, paramilitares, etc. Pero hoy no se puede desconocer lo que sucede y no podemos dejar que mañas, miedos y odios personales nos oscurezcan la visión.
Estamos lejos aún del fin del conflicto armado, y ciertamente no es este el último día de la guerra -como ha sido publicitado-. Pero mucho menos es una farsa o una payasada. Es una puerta que nunca jamás en la vida tuvimos la capacidad de abrir.

Hoy se ha firmado en La Habana un acuerdo de cese bilateral de acciones bélicas entre las FARC y el gobierno colombiano, entre otras cosas, que comienzan a viabilizar de hecho un acuerdo definitivo de paz.
http://www.semana.com/nacion/articulo/cese-al-fuego-y-proceso-de-paz-acuerdo-completo-entre-gobierno-y-farc/478986

Lo que se nos viene encima es un trabajo enorme para comenzar a imaginar y a sentir un país, unas relaciones y economías, un lenguaje que no sean los de la guerra. Un mundo diferente al de seis generaciones, para los que la guerra y el odio se constituyeron en la estructura fundamental de sentido. Un país que construyó todos sus argumentos con base en la guerra, en el que "la guerra" -y a veces, de manera más pobre, las FARC- se constituyeron en la última categoría explicativa para cientistas sociales, economistas, políticos, padres, psicólogos, comunicadores sociales... Un país en el que mucha gente lucró ferozmente alimentando la guerra mientras hombres y mujeres jóvenes y pobres morían y mataban, torturaban y eran torturados masivamente.

Este proceso que ya lleva 4 años y que apenas comienza requiere de todos nosotros, de nuestra fe, de nuestra fuerza, de nuestras mejores cabezas y corazones, de nuestras críticas y análisis, de nuestra música, de nuestra más bonita capacidad de bailar. Requiere de cosas terriblemente difíciles cuando uno crece en la guerra: capacidad de escuchar, de pedir perdón y de perdonar, capacidad de pensar más allá de la supervivencia del día y de nuestro pequeño grupo, capacidad de donar tiempo, cariño y dinero, capacidad de perder, capacidad de tener paciencia, capacidad de mirar para otros referentes...

No acabó la guerra, y es importante que lo tengamos claro. Habrá muchas traiciones y retrocesos, habrá muchas trampas puestas por gente a la que la posibilidad de la paz les produce un terrible miedo o una rabia visceral. Habrá cansancio y habrá sensaciones de fracaso. No todo será tan justo como nos gustaría, ni nuestros deseos de venganza se verán satisfechos. No será un mundo feliz ni los problemas del país se solucionarán. Pero es lo mejor que podemos hacer, y no es poco. En realidad, puede ser el momento más importante de nuestra historia, pues se abre la posibilidad de pensarnos nuevamente desde otros puntos de vista. Y debemos seguir, debemos dejar de lado lo (y los) que nos empuja a revolcarnos en el lodo, en los pozos de esa sangre que nunca coaguló porque nunca se enfrió.

No quiero aquí hablar de la guerra que conocí muy de cerca. No quiero convencer a nadie de que la guerra es terrible, de que tiene dueños que de ella lucran y de que la intensificación de la guerra para acabar con la guerra no apenas no tuvo éxito sino que produjo mucho más sufrimiento. No creo que oponerse al proceso de paz sea un resultado de falta de conocimiento. No quiero tampoco hablar de una paz que no conozco; apenas de un proceso, de un camino y de una puerta que no podemos desperdiciar.

Es hora de jugar como equipo. Es hora de buscar mejores informaciones, de mirarnos en el espejo y desmontar nuestros dispositivos de odio y desprecio. Es hora de comenzar nuevamente. De mi parte, pondré lo que más pueda para que este proceso sea lo más transformador posible.


terça-feira, 14 de junho de 2016

...as mortes, as mortes, as mortes...

...as mortes, as mortes, as mortes... Essas malditas mortes de ódio que sempre nos acompanham, que tanto fazemos para não ver, e que sempre fazem questão de habitar o espelho.


essas malditas mortes, cheias de vida, são a vida mesma toda concentrada no último dos seus gemidos. maiúsculo, grotesco, perdido... esquartejada, a vida; massacrada, estuprada, abolida. há muito tempo, insisto, que o mundo acabou...

outra vez as bichas assassinadas; o arco-íris outra vez quebrado pela incapacidade absoluta de amar, de respeitar, de sentir, de imaginar... ou sei lá. não sei. não sei. um homem, uma metralhadora, um mundo convulsionando nas articulações do dedo... não sei.

outra vez a moça assediada, acuada no ônibus, na casa, na igreja na sala de aula. outra vez a moça estuprada por trinta homens que se divertiam, por trinta homens que desejaram, que simplesmente podiam... e outra vez os eles estupradores arrebentados, machos crucificados, moídos em pedacinhos para serem devorados pela justiça-carniça... e tudo continuar igual


outras vez as putas sendo governadas por médicos, por policiais, por demónios legislativos e por feministas que lhes cospem bílis na cara querendo salvá-las, possuí-las, congelá-las. E outra vez o silêncio de quem não deveria estar calada...

...outra vez o sangue na terra e a terra no sangue que ainda brotava do corpo, os corpos baleados, os pescoços atravessados por tantas facadas como moscas, as calcinhas... que merda, sempre as calcinhas manchadas, rasgadas, sem importar o que guardavam dentro...

há quem chore orlando e não chore as duas travequinhas pobres e pretas da baixada -filhas elas de puta pobre e preta-.
há quem chore a moça estuprada e aproveite esse choro para maldizer às putas, algemar às putas, insultar as travas, maldizer as travas, algemar às travas as putas e excluí-las em siglas fascistas... ou deixa-las aí, algemadas a um post...

há quem nunca soube do professor rasgado a facadas de ódio em tabatinga, ou dos milhares de maricas que os paracos torturaram e assassinaram na colombia-e-por-aí-vai...
há quem nao quer nem ouvir sobre assédios e estupros, sobre cruentas vinganças, sobre violências que são mais que concertos em bemol...
há esses machos jovens pobres e talvez pretos -cisheteroscoisahorrível- que matam, comem do morto e morrem para alimentar o hype da favela, a compaixão, o armorio, as verdades que mais nos servem...

há o pó... há o chumbo... há o sangue, o sémen, as secreções vaginais, o cagaço... o suor latejando, a grana gozando, a fumaça que nos deixa loucos... o cheiro viciante das lágrimas alheias, a melodia meio-dia de uma confissão, e o aroma glorioso de uma mulher salva, resgatada, convertida.  

há vermes, também, que não distinguem: comem, cagam, golpeiam, governam e legislam.


mortes estas malditas mortes que não acabam com todos nós de uma vez só, tão obedientes as malditas mortes aos desígnios da economia, dos racismos, dos machismos, dos modernismos, dos iluminismos....

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Blasfêmia Colorida


eu
quero todas as cores da tua entrecoxa
quero os cem vermelhos da tua língua
a blasfêmia colorida de teus olhos, cabelos, dentes e segredos
quero-te de lama e geada, de carnes viradas e prazeres largos.

não minha, nem de ninguém
quero-te tua, do céu, da chuva marinha
santíssima anarca
putíssima mãe
suave
coração de rede
ave noturna
esperançoso cafuné.

Blasfêmia colorida
Como uma prece
Pra iniciar cada dia

Devorando-se


(2008?)

quarta-feira, 6 de abril de 2016

A Lua

Há a missão de levar a lua de volta ao seu lugar
recuperar para nós sua rotação correta
seu calor
desamarrá-la dos planetas gigantes e frios, 
das caldas espessas das luas de Saturno.

Hemos de dar aos motores todo o fogo
e ter a confiança na nossa nave amarela
na sua origem serial e vulgar de vitrine
hemos de olhar pela janela, perguntar tudo e ouvir...


Há, porém
um toco de árvore antiga 
raízes tão profundas, emaranhadas
madeira fina, pesada
firme, segura.
Peça imóvel
estrangulando os brotos
como quem gasta a vida tentando a morte
envergonhado da primavera
orgulhoso de aniquilar o vento,
a gravidade da lua que veio em cima.

Há aqui uma bomba de tempo
só minha
no fogo azul da melancolia
fazendo o sangue circular.
Uma vibração sensível
sempre próxima a perder controle
sempre banhada em hidrogênio
o pulsar na fronte
o coração na garganta
o coração no sexo
murcho
vulcânico
dito para não ser
duro.

Hemos de saber o que fazer
ter um plano
achar o dispositivo
contemplá-lo
e saber
saber o que fazer.

Há a seita mórbida das celebrações
e suas palavras matando-me ainda,
suas costas, que apenas vejo,
além do mais cruel dos sorrisos. 
Há esse mundo embaixo
que passa rápido, como um milagre 
surdo, sob o rugido da nave,
deformado na proximidade da lua.
E os amigos, que duvidam,
como foste tu
my precious, 
hegemonia de todos os clichés.

A lua começa já sua rotação solar
      desfazer-se de Górgona
E vamos empreendendo já o ascenso
devemos ser questão de tempo
de outro tempo
da terra preta aguardando a chuva
o beijo da lua
no seu lugar
longe, louca, na disritmia nos anos felizes.