sábado, 16 de maio de 2015

douse di mâio

o bicho das nuvens de chumbo
eleva suas asas roxas
fortes, grosas                
para vidas que ninguém nem suspeitar pode

bicho vira gente
mas virar gente é o menos
que bicho vira
qualquer um de nós virou gente quando da hora

bicho de gente vai virando asa
            virando nuvem
                       virando rumo doutros mundos
            donde nunca viemos

uma flor daquela cor que teu nariz não vê
ou o leito do rio morno
que acolher sabe
as angustias duma besta jovem

bicho era, foi e será
virará bicho depois de tudo
quando o tudo chegar em nós
e a vida assentar
bicho terá ainda seu nariz peludo de bicho-coisa-mais-linda-que-há

bixo virará qualquer coisa
que nao caiba nesse mundo miúdo
que lembre das suas bochechas gordas de cinco anos
que nao lembre de nada
e do dia taurino em que suas patinhas pretas
da primeira vez pousaram no violão

bicho menstrua
menstrua, menstrua bicho
menstrua, pelamôdideu
deu? dá
menstrua bicho, menstrua
e bicho diz coisas que nem gente diz
bicho toca Beatles
quer discutir
rasga corações de adolescentes lindos
bicho sabe do mundo
ainda que de nada ainda saiba nada
tao coisa à toa
tao nerd desde pequeninha
que de tudo sabe

bicho rockenrou odeia samba
queria namorar a Elza Soares no Rival

bicho ama com seu coração de touro chato e brabo

bicho vira gente
            mulher gente
            mulher bicho
                       que vira acorde

            que vira bicho virando mulher.