quarta-feira, 6 de abril de 2016

A Lua

Há a missão de levar a lua de volta ao seu lugar
recuperar para nós sua rotação correta
seu calor
desamarrá-la dos planetas gigantes e frios, 
das caldas espessas das luas de Saturno.

Hemos de dar aos motores todo o fogo
e ter a confiança na nossa nave amarela
na sua origem serial e vulgar de vitrine
hemos de olhar pela janela, perguntar tudo e ouvir...


Há, porém
um toco de árvore antiga 
raízes tão profundas, emaranhadas
madeira fina, pesada
firme, segura.
Peça imóvel
estrangulando os brotos
como quem gasta a vida tentando a morte
envergonhado da primavera
orgulhoso de aniquilar o vento,
a gravidade da lua que veio em cima.

Há aqui uma bomba de tempo
só minha
no fogo azul da melancolia
fazendo o sangue circular.
Uma vibração sensível
sempre próxima a perder controle
sempre banhada em hidrogênio
o pulsar na fronte
o coração na garganta
o coração no sexo
murcho
vulcânico
dito para não ser
duro.

Hemos de saber o que fazer
ter um plano
achar o dispositivo
contemplá-lo
e saber
saber o que fazer.

Há a seita mórbida das celebrações
e suas palavras matando-me ainda,
suas costas, que apenas vejo,
além do mais cruel dos sorrisos. 
Há esse mundo embaixo
que passa rápido, como um milagre 
surdo, sob o rugido da nave,
deformado na proximidade da lua.
E os amigos, que duvidam,
como foste tu
my precious, 
hegemonia de todos os clichés.

A lua começa já sua rotação solar
      desfazer-se de Górgona
E vamos empreendendo já o ascenso
devemos ser questão de tempo
de outro tempo
da terra preta aguardando a chuva
o beijo da lua
no seu lugar
longe, louca, na disritmia nos anos felizes.

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