segunda-feira, 11 de junho de 2012

Valeu, porra


Ao Gui.



Essa palavra de cidade extraordinária e lixão nas pilastras
De nuvens de sol e reflexos de mar no monólito milenar
Cidade de pernas douradas, fortes e abertas
Cidade voluptuosa e labial

Essa cidade que tem mais mortos que peixinhos a nadar no mar
E mais vida da que estrangeiro algum poderá suportar
Cidade de mijo com pipoca adoçando o ar
Cidade de brisas salgadas e suor de machão fardado

De ti vou-me embora com a mesma mala preta
Algumas dívidas contigo deixo, agradecimentos
Como nas piores horas no teu mar as angústias...

Deixo as lembranças do amor setentrional
As brigas virulentas e tanto gemido molhando as janelas
...os projetos que ficaram pendurados no sanguíneo amanhecer do Corcovado

Deixo o sonho de querer-te, cidade marrentilhosa
Eu que te conheci apenas nos brilhos do cabelo
Que tão mui te gozei e tão nada te dei, como bom gringo

Vou-me embora pra putárgada que nos re-mil parió
Mais velho e com tua areia entre os cílios
Sem coqueiros nem sabiás, sem exilio nem bossa nova.

Deixo em ti um bixo virando gente e um irmão virando índio,
alguns amores, alguns amigos:
...la Silvia con su Gracielita,
uma vila gloriosa e uma vizinha também
um colorado doente e a barriguda da sua rubro-negra
um gentleman gaúcho perdido no mato
uma alemã cria daspu-tas
uma velha queer e sua Mama Monster
a Laura de Piracicaba, a Drealer,
a mineira sardentinha que me trocou por um chocolate azteca
um sobrinho na Barra-de-Miami
a GabiGigante e seu castelo de topo do morro
um caixinha com meus tesouros...
E peço-te desde o fervilhar da minha úlcera gástrica
Que não os destruas infame
            nem bueiros nem prédios implotentes
            nem enchentes nem chacinas de pacificação
nem rata-sanas nem lacraias

Vou-me embora feliz e agradecido pela nossa caralha história
Satisfeito pela minha teimosia hedónica do 21
Pelo bem-me-quer do teu ar úmido e teus 0-800 sobre a rocha

Sei que não chorarás por mim, bastarda
Nem pareço Evita nem queres Buenos Aires
E há tempos que esqueceste de chorar...
            teus olhos zoam
                                   suam
                                               zumbam

E depois,
logo logo estarei aqui pedindo arrego
buscando alívio no poder da onda
            nas roupinhas levianas
            na cantoria do Flamengo
            nas peles orvalhadas que gostam de beijar.


segunda-feira, 4 de junho de 2012

pensando en todo, incluso en ti. Allá.

Nacesitamos de mucha más poesía 
los mundos
siempre
todos
cambiarlos
No necesitamos de más poetas
not at all necesitamos poetas
versos o rimas mucho menos
muchas, menos!
o poetas con espejo de poetas y palabras de poetas

Necesitamos de toda más poesía en este mundo maldito
de mucha ensoñación vagabunda
del tiempo perdido frente a tres palabras y una servilleta
la duda, la celebración
de la masturbación sin madrugar, necesitamos
del travestido y las quimeras que somos
sin juez 
sin editora en tacón
no tanto del conteo silábico
los muchos

Y sin embargo necesitamos del conteo silábico para parar al mundo
o el rumbo o golpearlo, lanzarle
la delicadeza del conteo silábico del pescador río arriba
la repetición incesante
conteo silábico
conteo silábico
la hamaca
los mundos
hasta encontrar la forma
o el pez que transmuta en energía y no en dinero
conteo silábico 
conteo silábico
nos impide consumir
deshace organismo industrial

no hay línea de producción que soporte la respiración de un endecasílabo

el soneto taconeo soberano de diez putitos sin sombrero, máquina de guerra

Necesitamos poesía muda más para rasgar al mucho
entrañas beberle, contrahechizarlo
ningún poema ninguno, necesitamos
mucho menos libro
menos mucho mundo
oraciones de conservación o mantras yóicos
o expresidentes poetas
o versadores asalariados
o escribientes que prefieran sí
o amores que prefieren no
ni Rio +20, mucho. Nada.

Necesitamos palabras que nos sonrojen
que te enamores sin cautela
bomba
mentirosas de hermoso tejido
Penélope, Cartomante, Cristina
Sermos Ulisses 
ou cair de bruços nas tarde de lã qual gatita de primavera
ou voraz destruidor alado 
dragón
hombres bellos que quieran estar
y corten las cabezas de los taridores

Necesitamos aprender en demora y fibrosía a sentir en las puntas de los dedos el humedecerse del deseo

Cambiar el mundo, temita difícil.
Yo no puedo vivir sin pasión.