domingo, 24 de abril de 2011

Sul

No inverno os mamilos crescem
Viram rochedos suculentos
Fecham-se sobre si em dobras góticas.

No inverno todas as carnes endurecem
São frutas firmes de energia contida
E os pêlos excitados de calafrios públicos

No inverno desfilam o casacão de lã
Ou de pele fingida de animal certo
Que acaricia a tez hidratada e o umbigo e o joelho

No inverno as ruas são as mesmas do verão
A promessa da lareira ou do vulcão desconhecido
E sob as luvas de cetim as mãos mais doces e malandras.

No inverno é vento, é pampa e elas na avenida
O batom vermelho, o céu violeta
Os zerograus sussurram nos ossos e gemem no coração

No inverno da capital os espíritos pobres
Seguem sendo tão pobres mas de sopa na viatura
E a fúria campeira ou a culpa colona, também


...no inverno refugiar-se nos teus cabelos
no esbravejar das tuas brigas
com o dinheiro que teria perdido na poupança dos filhos ingratos.
ai... no inverno o motelzinho de cobertas grossas
ou demorar o boquete no estacionamento
para não perder tão precocemente a calefação do carro do senhor.

no inverno deixar a piça bem quente e esfomeada
esfregá-la toda nas coxas geladas
e depois senti-la entrar, devagarzinho, até atiçar a luz da primavera.

e então florescer, de vez, na madrugada do cabaré
dormir tranqüila de volta a casa
bem paga, bem comida; boa comida na geladeira já paga.

...

Nu inverno
De vulva violácea e apertadinha
De leites fervidas na panela o os pingos de mel.